quarta-feira, 27 de maio de 2009

Noite de mim.(ou ouro descascado)


Até eu dormir vou manter isso aqui, tá?
O balão amarelo, preso nos meus dedos.
Até daqui dois minutinhos...
Vou deixar a luz acesa também.
Não precisa me lembrar, eu sei daquela carta.
E das palavras berradas, choradas, noturnas, soturnas.
Gravadas.
Quantas páginas tem?
Eu sempre insisto em mim.
Sabe como sempre soube, me soube teimosa.
Em me...
Sem vontade não se levanta.
Gosto mesmo de paixão, de chorar meio sem razão.
De reclamar o que não foi meu, mesmo sem querer.
E é por sempre querer demais.
Gosto de dividir com quem me divide,
Quem leva um pedaço...
Mas cuida bem.
E, guarda dentro de cada secar dessas coisas que escorrem salgadas do meu rosto,
Que nascem de fonte furtiva de mim.
Estampado aqui e em mais um não lugar do que não é.
O balão se solta quando pego no sono...voa pra longe.
Me traz de volta de mim.
E me leva toda noite um pouco mais longe desse tempo de terra.
Me leva um pouco mais perto desse tempo de agora.
Me devolve um pouco melhor do que fui outrora.

imagem:http://www.kurthalsey.com/

segunda-feira, 25 de maio de 2009

matizes de manhã

http://www.kurthalsey.com*

Pra quem atravessa comigo quando é leve...
Difícil dividir risadas, se alegrar com o brilho.
Quando há dor, as pessoas estão prontas, com receita de bolo.
Riso só divide quem sabe.
Lágrima quem soube.
Copo quem pode.
Eu quem sei.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

É que balança.

Ai que saudade sem fim.
Não sei porque,
Isso ainda mora em mim.
Vejo...
E, essas pedras, acho que é mágoa que se instalou,
Que nasceu e cresce, acidente geografico,
Isso é sísmico, terremoto de tudo que vou sendo.
As ondas daqui e de você insistem em bater,
Cadinho,
Cadinho e aos poucos elas vão virando areia...
Queria muito isso ainda aqui.
Queria poder dizer o que não se soube mais.
Ai de repente isso me assalta no meio do dia.
Ao meio-dia a fome desse fel arrebata,
Me arrebata e não me deixaria inteira...
Se já não fosse a hora de navegar em outras nuvens.
Pior que o corvo que assustou em poema no meio da noite,
é a bicicleta que fica parada, encrustrada de diamante raro,
Cheia de poeira de expectativa, do que não pode ser porque não é.
Sem andar nenhuma quadra.
Pedalei, mas queria aprender o caminho de volta para o que seguiu.
-Vem comigo, eu ainda faço força pra isso.


Ou não.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

colcha de retalhos de tarde.

"Saudade é amar um passado
que ainda não passou
É recusar um presente
que nos machuca
É não ver o futuro
que nos convida..."

-Pablo Neruda-

"O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase."

-
Paulo Leminski-

"Você está vivo.
Esse é o seu espetáculo.
Só quem se mostra se encontra.
Por mais que se perca no caminho"

-Cazuza-

"
Era tempo de terra.
Onde não há jardim,
as flores nascem
de um secreto investimento
em formas improváveis."

-Carlos Drummond de Andrade-

"Andavam por ruas e ruas falando e rindo,
falavam e riam para dar matéria peso
à levíssima embriaguez que era
a alegria da sede deles."

-
Clarice Linspector-

Costuro esses pedaços pra construir a colcha de retalhos que me invadiu no final dessa tarde.
Entendi o choro dos vencidos, se chora pelo desconhecido.
Em seguida, vencidos e vencedores, se é que isso existe, choram sem lágrimas, pelas pequenas dores de cada dia.
Hoje, já não chorei...não o faço há tempos...
Mas teria chorado se ainda tivesse espaço.
mas...

"Às vezes como uma moeda
se acendia um pedaço de Sol
entre minhas mãos."

-
Pablo Neruda-

E, eles falam melhor hoje isso de mim.

terça-feira, 19 de maio de 2009

E quando eu estiver.

Mas, tudo bem do chão ninguém passa,
Nem passou,
Nunca passei.

O que ainda é meu não quero de volta.

Os acordes da vida estão vibrando,
Nas paredes,
Ninguém percebe as marcas,
Foram mordidas e unhadas.
Você nem é o meu melhor.
Eu te esqueci assim que te conheci.
Ainda não me afoguei essa semana.
Conto sem medo dessas caras de espanto.
Borradas de rímel e medo,
De pudor e descrença,
De mim e sem vocês aqui.
E devorados, e fugidios.
Furacões são assim, é melhor estar preparado!
Amanhã te edito daqui e de mim.
Só por hoje vou deixar você saturar no meu peito,
Me pegar de jeito,
Me mostrar respeito pelos ideais,
E, pelo ideal movimento dessas pernas,
Pêlo ideal e pernas.
Eu vou me auto-medicar,
Não acredito mais em médicos, não vejo mais filmes,
Nem deixo que me falem de amor,
Bastou o meu.
Basta de vocês.
Sai dessa órbita e conheci um outro mundo.
Cuidado que ando explosiva no infinito,
Estou procurando um abraço que entenda a linha que me faltar aqui.

domingo, 17 de maio de 2009

atropelado.

"Sei que o dia já se foi pra você..."
-agnela-

Sim, eu sei, não tenho mais quinze anos...mas e daí?
Estou há 24hs ouvindo a música das meninas por conta da gravação do clipe.
E, achei música triste, simples(num bom sentido!) e bonita...Pensando sobre:

Minha vida sem você é cheia de mim,
Tem muito eu.
Porque você é mais amor.
Foi.
Em todas as pequenas expressões.
Porque eu guardava, feito relicário, tudo de especial pra lembrar...
Que era.
Que tanto.
Que eu.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Neverland.

Não que queira voltar no tempo,
Não dá tempo!
Nem ser mais ingênua,
Não tem espaço.
Queria algumas cores que não vejo por aí dando bobeira.
Queria o carrapato que prendeu na minha perninha sem pêlos.
Queria só uma manhã na colônia.
Caminhada até os laguinho pra dar o pão para os patinhos.
Queria no caminho ver o tio noca na pracinha, e eu juro que o via, mesmo morto há tempo!
Beber a água gelada na fonte, será que ainda existe aquilo?
Andar de pedalinho, ganhar o prêmio garfo de ouro e dar o nome pra nova cabrita.
Queria sim o bingo de feijão, o cheiro de feijão, a fanta uva e o misto.
Comer sem calorias, dormir sem horário, jogar sem ganhar.(aliás, ganhei, o bingo de mais azarada, tive até uma faixa de papel higiênico...ganhei também uma pipoqueira no mesmo dia.Porque às vezes tenho sorte.)
Espiar os adultos jogando sinuca, pela fresta, em fila, um de cada vez.Ei, sou eu!
Queria mais um dos melhores dias...os que fazia sol! Era uma correria só, era raro sol por lá, todas as crianças saim correndo pra piscina, e se nas próximas férias você estivesse na piscina grande...não falava mais com quem frequantava a pequena.
Quanto status!rs
Era uma felicidade completa, daqueles momentos que você sabe que vai ser pra sempre.
E eu sabia aos 5, sabia naquela última vez aos 13 e sei hoje.
Só existiam manhãs, até as tardes eram manhãs, e nas noites a gente via sol.
Queria sim, o velho do meu lado, contando seus causos.
Nunca pensei querer...mas queria a velha lembrando que tem que esperar uma hora depois de comer pra poder brincar.
Queria o amor que eu senti, pulsando por aqueles que hoje, vejo, tão e demasiadamente humanos.
Nostalgia às vezes é barata, mas têm coisas que me são caras.
Não me trocaria por ontem, gosto sim muito de hoje.
Gosto de hoje porque fui feita dessas coisas, do meu respaldo de que a vida vale tanto.
E, mesmo que tenha que me diga que o mundo não é tão colorido(né, gui?), eu prefiro vê-lo bonito.
Bonito e real.
OK.OK.
O texto anterior pode ter sido baratinho...rs.
Ainda me rendo a algumas multidões, mas realmente às vezes me dá vontade de acordar com o galo chato de vassouras, no tempo que o maior medo era que um sapo pudesse ter entrado no quarto.
Nada mais existia senão mágica.
Ainda tem mágica hoje. São mágicas diferentes, talvez porque mágica peça um pouco mais de mistério, um pouco mais de acreditar.
Um pouco mais de saudade.


-resposta carinhosa às minhas caras e 'coroas' amigas, karol e karla.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A síndrome dos vinte e tantos

A chamam de 'crise do quarto de vida'.
Você começa a se dar conta de que seu círculo de amigos é menor do que há alguns anos. Se dá conta de que é cada vez mais difícil vê-los e organizar horários por diferentes questões: trabalho, estudo, namorado(a) etc..
E cada vez desfruta mais dessa cervejinha que serve como desculpa para conversar um pouco. As multidões já não são 'tão divertidas'… E ás vezes até lhe incomodam.
E você estranha o bem-bom da escola, dos grupos, de socializar com as mesmas pessoas de forma constante.
Mas começa a se dar conta de que enquanto alguns eram verdadeiros amigos, outros não eram tão especiais depois de tudo. Você começa a perceber que algumas pessoas são egoístas e que, talvez, esses amigos que você acreditava serem próximos não são exatamente as melhores pessoas que conheceu e que o pessoal com quem perdeu contato, são os amigos mais importantes para você. Ri com mais vontade, mas chora com menos lágrimas e mais dor. Partem seu coração e você se pergunta como essa pessoa que amou tanto pôde lhe fazer tanto mal. Ou, talvez, á noite você se lembre e se pergunte por que não pode conhecer alguém o suficiente interessante para querer conhecê-lo melhor. Parece que todos que você conhece já estão namorando há anos e alguns começam a se casar.
Talvez você também, realmente, ame alguém, mas, simplesmente, não tem certeza se está preparado (a) para se comprometer pelo resto da vida.
Os rolês e encontros de uma noite começam a parecer baratos e ficar bêbado e agir como um idiota começa a parecer, realmente, estúpido.
Sair três vezes por final de semana lhe deixa esgotado e significa muito dinheiro para seu pequeno salário. Olha para o seu trabalho e, talvez, não esteja nem perto do que pensava que estaria fazendo. Ou, talvez, esteja procurando algum trabalho e pensa que tem que começar de baixo e isso lhe dá um pouco de medo.
Dia a dia, você trata de começar a se entender, sobre o que quer e o que não quer. Suas opiniões se tornam mais fortes.
Vê o que os outros estão fazendo e se encontra julgando um pouco mais do que o normal, porque, de repente, você tem certos laços em sua vida e adiciona coisas a sua lista do que é aceitável e do que não é. Às vezes, você se sente genial e invencível, outras… Apenas com medo e confuso (a).
De repente, você trata de se obstinar ao passado, mas se dá conta de que o passado se distancia mais e que não há outra opção a não ser continuar avançando.
Você se preocupa com o futuro, empréstimos, dinheiro… E com construir uma vida para você. E enquanto ganhar a carreira seria grandioso, você não queria estar competindo nela. O que, talvez, você não se dê conta, é que todos que estamos lendo esse textos nos identificamos com ele. Todos nós que temos 'vinte e tantos' e gostaríamos de voltar aos 15-16 algumas vezes. Parece ser um lugar instável, um caminho de passagem, uma bagunça na cabeça… Mas TODOS dizem que é a melhor época de nossas vidas e não temos que deixar de aproveitá-la por causa dos nossos medos… Dizem que esses tempos são o cimento do nosso futuro. Parece que foi ontem que tínhamos 16…
Então, amanha teremos 30?!?! Assim tão rápido?!?!
FAÇAMOS VALER NOSSO TEMPO… QUE ELE NÃO PASSE!*
A vida não se mede pelas vezes que você respira, mas sim por aqueles momentos que lhe deixam sem fôlego…*


Considerações: uma amiga me mandou esse texto, como tudo se encaixa, faço do autor "anônimo" minhas palavras, é bobo mas é verdade.

e mais muitos vinte e tantas.

terça-feira, 12 de maio de 2009

egocentrismo 'in' puro.

Não sei se é certo,
Ser feliz consigo, comigo,
É que Consigo.
Não sei se é certo nunca pedir abrigo.
O meu casaco me esquenta,
Eu rio sozinha,
E lago, e mar comigo.
Eu campo, eu sala e eu quarto,
Eu sonho e eu real,
Eu ônibus, eu centro,
Eu sento e ando onde é,
E subo escadas longas, eu encaro, eu cara,
Eu nas cidades, nas casas que durmo em dia,
Eu não sei que cabe em mim,
Sei se sei nada,
Me faço leve quando dá,
E eu posso.
Me jogo em poços e bebo água suja,
Algum álcool pra me limpar,
Eu sufoco e flutuo,
E, quando não, parece que vai ser assim mesmo.
Eu e eu, carrinho das minhas compras,
Eu e aulas de arte,
Eu acreditando no que nem conheci ainda.
Eu querendo eu,mim e eu...
- Meu?

sábado, 9 de maio de 2009

Eu mato.


"Don't give away what you can't live without, and if you do, make sure you get his, too."

-John Mayer-

O que eu faço com o espaço de vocês?
O que eu faço com esse bem querer, que levei anos pra construir?
O que eu faço com as notícias...com os segredos..com as piadas?
Não me ensinaram fingir direito que nada passou por aqui.
Não sei o que fazer com retratos, com a bolsa que foi presente, com a bola que me deu no zoológico.
Fico paralizada diante desses vestígios do que foi tão bonito e parece, entulho no fundo de armário velho.
O cheiro de naftalina que os dias ganharam só não é maior que a vontade dos dias correrem, das semanas acabarem, dos meses passarem por isso...dos anos, quiçá, me trazerem de volta daqui.
Não sei onde guardar o casaco da sua mãe, a vontade de mostrar o trabalho pra sua, a falta que vocês deixaram.
Vocês adorariam saber do violonista turco que me deu aula de chorinho.
Abriu-se um clarão.
Tem um espaço e parece que é no meio do peito.
Que quase não me deixa respirar, naqueles segundo que eu acordo e penso:"tenho que contar isso pra eles"
"eles" não existem mais.
"eles" não são e nem foram.
"eles" não tentam, não moram, se deram.
"eles" não me dizem, não me mostram, não brigam e calam indiferentes.
"eles" resistem e ainda existem na gotinha que sai tímida no canto de um só olho-é só o que deixo transbordar deles ainda.
Sufoco vocês dia após dia.
E, nesse homicídio diário, trago fumaça de vida pra conseguir respirar.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Inventário.

Quando foi embora,

Achei que não fosse mais levantar,

Mas, levantei,

Achei que não havia mais graça,e ri!

Achei que nunca mais acordaria com vontade de hoje,

E hoje acordei!

Achei que nunca mais ia ter a sensação de plenitude que era ficar do seu lado,

Comendo biscoito, você comia o recheio e me dava a casquinha.

Quando era pão, a casquinha era sua.

Comia o que eu não agüentava e me dava o ovinho de codorna do seu cachorro-quente.

Cozinhava a canja com batata e cenoura,e servia.

Essas coisas bobas, que no final das contas é o que dói.

A gente se alimentava da gente, mas vivia com fome da vida.

Eu ainda não parei pra chorar pelo que foi perdido, é que eu tenho medo de não parar.

No inventário do que não tem mais jeito enumero as certezas que escoaram pelos meus dedos, e mesmo quando eu fechava a mão, e eu fazia força, elas passavam, sorrateiramente entre um polegar e um anelar.

Escoou certeza, admiração, vontade e um pouco de mim.

Eu sei que você não me deixaria sozinha, eu sempre soube.

Só que eu acabei sabendo de mais coisas,

Você não era completo.

Eu não era também.

Continuo me sentindo sem você, só que agora é mais real isso.Porque não me sinto sem você, seja lá quem você se fez e o que foi esse tufão, me sinto sem quem eu fui.

Desculpa se eu deixei você esperando.

É que eu ainda não me tenho pra te dar.

Me da uma dorzinha...saber que você não esta mais na linha, nem no ouvido, nem no coração.

Mas ela logo passa.

Se pudesse escolher, te escolhia.

Mas em alguma altura, entre o décimo andar e esse chão duro...

Eu me escolhi.

Estou com algumas costelas quebradas, mas meu peito continua grande, bom e forte.

E, repito como oração: valeu a pena, valeu a pena.

Quem sabe uma hora, ou duas, eu acredite no que passou, e eu expulsei a golpes de pincel.

Faço inventários, eu sei, mas foi real.