terça-feira, 28 de julho de 2009

Estalinho.


E mesmo ainda depois desse tempo que se deu e a gente se deu. Mesmo depois desse tempo ainda não me faz sentido o que eu senti. Logo eu que não nasci dada a sentimentos, fui ensinada a ser dura, sisuda, logo eu que nasci grande, mas mais pra ser forte mesmo. Grande demais pra não ser forte. Mesmo eu que luto, reluto e não gosto de absurdo. Mesmo eu ainda não me dei a entender o que é isso. O que foi e preciso aprender a conjugar no passado-bem-passado, mesmo que para isso tenha que inventar um novo tempo verbal. Tanta conversa pra nada, tanto telefone não trouxe o que havia, o que não havia, o que hoje é perdido. Venho aqui e desobedeço a minha própria convenção... Combinei comigo mesma 'sem esse assunto'. E o que dizes eu? O que dizes a mim quando um centímetro certo de um dia tranqüilo, quando um centímetro exato me lembra de horas cheias de certeza, protesto e um bem querer que ultrapassa. Ultrapassa e é feito como essas linhas, seguidas, atrapalhadas, sem pontuação coerência, métrica e por isso tão minhas. Esses centímetros de pedaços que emergem desse fundo sem fundo do que não acaba. Ah! Esses centímetros são traiçoeiros e me trazem um brilho do que eu não posso e nem devo... Todos os meus alertas apitam... E esses centímetros me trazem um sorriso, quase oco se não o fosse cheio. O que eu digo a mim é o que outros me repetem pra ver se tatuo no braço, esquerdo ou direito. O que essa gente otimista e cheia de experiência e filosofia baratas, caras ou fingidas, essa gente me repete como oração: vai passar! Mas já passou, minha gente boa... Passou! É passado, mas não apagado. Disso ninguém me falou. Dize-me eu e vocês a mim: vou esquecer? É que doeu mesmo.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Feliz dia do que eu acho que tenho.



Acho mesmo que essa coisa de você é o que você é uma furada... Você é o que você tem, mesmo sabendo que dessa vida a gente tem o que a gente é, acredito que sou quem eu pensei ter e por isso tenho até hoje...
Tenho amigo que acorda cedinho, que acorda tarde... Amigo que ainda não acordou.
Tenho amigo que anda perdido, tenho amigo que sempre sabe pra onde ir, mesmo que tenha que ir embora daqui.
Tenho amigo que mora no navio, mora por aí, mora em mim e amigo que sonha com barquinho, cachorro, com revolução, com uma Gucci.
Tenho amigo no mar, com prancha, bóia de braço, areia no fio dental.
Tenho amigo que não tem sono e amigo que eu deixo dormindo na minha cama depois de eu sair dela.
Tenho amigo que sonha acordado e me mostra a saída.
Tenho amigo que me mostra a entrada e me dá aquela forcinha que ajuda no embalo, o empurrão fundamental.
Tenho amigo que tem tio papa defunto e brincava de esconde-esconde nos caixões.
Tenho amigo que já bati e joguei sukita na cara. Choramos juntas, porque teríamos ter que tomar banho e precisaríamos nos separar... Essa separação já dura 17 anos, paramos de chorar, mas nunca de ser amigas.
Tenho amigo que nasceu comigo, cresceu, estudou a vida toda... E desde os quatro anos falávamos que moraríamos juntas em Niterói, descobrimos a tal “uff”... Passamos pra lá. Quem me deu a notícia foi ela, informando que moraríamos juntas e moramos e somos até hoje.
Tenho amigo que me emociona, assim do nada, de lembrar.
Tenho amigo nos Emirados, em Paris, em Vila Velha, em Paraíso, em Niterói, em Campos e aqui do lado. Tenho amigo em mim.
Tenho amigo que me enche de presentes, livros, perfumes, lugares, presença e silêncio, barulho!
Tenho amigo que nem sei como virou amigo... Em algum intervalo entre 14 anos atrás e agora, as meninas se tornaram quem são hoje, a risada, a vodka e a verdade que falta no mundo e eu tenho de sobra nelas.
Tenho amigos das faculdades, tendo entrado em três em um ano ganhei gente diferente, bonita e colorida no meu mundinho que ficou mundão.
Tenho amigo mãe, amigo pai, amigo irmão. Esses amigos são e são sem muita explicação.
Tenho amigo que já amei, que mentiu e sumiu.
Tenho amigo que deixa espaço, que preenche espaço.
Tenho amigo que eu conto, outros eu ligo na hora.
Tenho amigo que sabe demais, outros que conhecem demais, alguns que já sabem de tudo e lêem pensamentos.
Tenho amigo que duvida, e que acredita demais.
Tenho amigo que vira família, que me dá cama, toalha, café da manhã e um pouco mais de amor.
Tem tanta gente querida diferente nessa minha vida, mas o que esses bichos têm mesmo em comum é uma verdade que grita e lhes salta antes mesmo deles serem eles. E toda vez que vejo essa essência jorrante em alguém, chego perto e faço meu amigo.
Porque é sempre bom ter um pouco mais de história e poesia.
E, por isso sou um pouco o que eu tenho deles também.
Feliz dia do amigo pra quem é.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

há tempos.

Queria te ligar agora.

Nunca vou contar isso pra ninguém. Óbvio.

É daquelas coisas que eu não conto.

Mas me encontro assim. Com vontade de deixar você entrar e fazer bagunça.

Deixar tudo virado, as coisas pelo chão, no avesso do avesso desses.

Jogar fora todo Freud, toda reza, toda mandinga, auto-ajuda, amor próprio, consciência ambiental, responsabilidade social, reserva, aprendizado, vergonha na cara mesmo.

Deixar poluir esse quarto, seus afluentes, meus pensamentos e minha sorte.

Queria te ligar e falar que ainda sou eu aqui, que queria você na mesa da cozinha comendo bolo de fubá com sorvete de creme. Sendo o estorvo que sempre foi.

Que você nunca deveria ter ido além da esquina e que deveria ter concordado com você de que essa casa era sua, meu peito e a pinta da perna esquerda também.

Queria te ligar pra ouvir um consolo de uma tristeza que não existe, queria precisar de você.

Queria uma necessidade urgente, uma paixão daquelas bem de filme, novela, tirinhas...ardente e brega.

Queria que você me sorvesse como num estalar de madeiras antigas de degraus de escadas de um ou dois outros tempos, século, vida.

Sorri, queria você sorri.

Até chora, queria você chora.

Aquela risada cansada de homem de oitenta anos que você tem. Que saudade dela.

Que saudade de ela ser combustível desses dias. Daqueles, né?

Queria te ligar agora e falar sobre o que eu me esqueci de pensar e questionar.

Queria mesmo ter até pensado nessas frases.

A crise, a gripe, a vó, os cachorros, o sonho.

Meu caos se foi com você e essa calmaria me estranha. A gente não se dá bem.

Cada uma senta de um lado da mesma mesa que teve... Eu e essa calma, a gente se olha, lê um livro, descasca batatas e pega num sono acordado que se tornaram os dias.

Queria te ligar pra ver você me olhando, que pessoa bonita eu via que você via em mim.

Você via que eu conseguia, e vendo que você via eu conseguia.

Acho que esse é o x, y, z da questão... Eu sinto vontade de ser amada pelo seu olho.

De ser acreditada por ele.

Não me lembro se o esquerdo ou o direito...mas um dos dois me amava profundamente.

Uma coisa bonita de se ver. Não sei se você conseguiu ver com o olho que te restava...mas o outro...ah! como ele me amava!

Ele era devoto de mim. Você não. Ele sim. Era o que você deixava me amar.

Um de seus olhos.

Ele eu queria ainda. Só hoje. Só pra ver como se vê com um olho eu mesma.

Eu grande e conseguida. Eu saudosa e Eu seguida.

Mas deve ser assim a vida... Nada que um leite queimado e tylenol não possa resolver.


* Ilustração Eduardo Recife. Vale a pena conferir!


segunda-feira, 13 de julho de 2009

De um dia que esqueci e teve um pouco hoje.

Não é segredo!

Nem o que foi sentido, nem o que foi.

Nem o que foi sendo.

Eu não tropeço, eu me jogo.

Rema, aponta.

Todo encontro deixa um adeus de outro.

Adeus outro.

Eu sei, meu bem antigo, meu bem querido, sinto de você a mesma saudade de abrir um livro com cheiro de guardado.

Pra mim, hoje, você é aquele cheiro. E, tem a voz com a mesma cor meio amarela, meio laranja de páginas meio esquecidas, ora lembradas.

Você é um livro que não li todo, que esqueci o final mais por não saber mesmo o que se deu. O que eu dei.

Você é a curiosidade que me rende, assalta e me leva tudo em um sonho de uma segunda pra terça qualquer.

Mas a gente seguiu viagem, e é bom lembrar bem o que eu guardo de bom.

E se quer ver antes de voar...

Venha se despedir.

Quando tudo parte o silêncio flutua entre.

Entre mim e eu e o que nunca vou.

E, Eu que nunca vou, só porque espero chegar.

Pense bem, zanguei.

Tem muito mais pra dar.

É verdade.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Auto-explicativo












em: http://www.edwardmonkton.com/

quarta-feira, 8 de julho de 2009

De um tempo atrás.

Então isso é a dor,

A dor cantada há milhares, e há anos,

Isso é dor,

A dor das cantatas, dos sonetos,

A dor de Orfeu, Romeu, Shakespeare e a minha.

Essa é a dor,

Ela não é tão bonita quanto queria.

Nem tão assustadora,

Ela não tem tantos acordes, Bach!

Ela é silenciosa, cortante e grita calada.

Ela é uma espera na janela,

Uma pose vazia e aparente feliz,

Ela é o que não volta, é a revolta do que se quer cuspir.

Mas, se engole,

Me engole.

Tantas e muitas...

Dor.

Que tenta os dias felizes e ensolarados,

Dor que mora onde não existe mais nada, só reverberações de harmônicos inaudíveis.

A dor vestida de chumbo, olho bem,

Fito-a nos olhos!

Nos olhos sem fundo, que me mostram o que ninguém devia ver,

Olho-a bem, pra reconhecer de longe, quando a brisa da felicidade me beijar de novo,

Nova!

Suave, fresca, matinal,

Na fronte do meu rosto, da minh’alma.

Olho a dor para reconhecer a alegria quando ela chegar.

Chegou.