sábado, 27 de novembro de 2010

Terracota







Eu não procuro mais.
Ando e vou achando esquinas e mais esquinas.
Descubro no caminho o caminho.
Conhecer o mundo é mostrar a alma da gente do avesso pra gente mesmo.
Descobri que eu sou chata, que estar pra lá de Marrakech confere em mim um sentido oblíquo do que, ora, hora antes, era retilíneo.
Queria ser uniforme.
Descobri que sou menos poesia e mais lirismo.
Descobri que coberta de lenços, mulheres se revelam.
O olho é a janela do lenço, é a brecha pela qual mulheres de todo o mundo deixam escapar.
A gente se entrega... Pro menino bobo, pro sheik, pro cara que sabe fazer rir.
E, vai sendo assim...
Ofereceram alguns camelos e uma loja de lenço pro amigo que me acompanhava no mercado... Juro! Eles vão falando... e não sei qual é a medição, mas na África eu valho em matéria.
Quando cheguei no Marrocos só conseguia pensar "absurdo"
Absurdo mesmo é a gente não ser feliz.
É ter tanta gente na miséria a sorrir.
É naja no meio da praça, é macaco pra todo canto.
Absurdo é o Deserto do Saara, andar horas só tendo como guias nômades que falam dialetos perdidos.




Que me deixam perdida.
Absurdo eu estar aqui, lá.
Eu ainda estou lá... Em meio a um mundo de areia, em cima do maior dromedário da fila, pensei que queria minh'alma imensa.
Quero que o mundo ande sempre comigo... Me senti dona dele por alguns minutos.
E, A-D-O-R-E-I!
Recomendo a todos que não sabem o que fazer, que estão tristes ou sei lá o que...
Veja o Sol.
O Pôr-do-Sol mais lindo que já vi foi ao lado de mim mesma e rodeada pelo amor de vocês.
As misérias do mundo existem, sabia que o couro é curtido com cocô de pombo?! E pra isso famílias inteiras vivem na sujeira e homens passam o dia mergulhado na merda?
Isso não tem métrica, né?!
Não versa.
A vida muitas vezes é assim.
Encontrar sorrisos no meio da sujeira é esforço e deveria ser dever de todos.
Entre muitas outras coisas os Marroquinos me ensinaram isso.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Era uma vez...

O espírito queria encontrar carne, mas, encontrou palavras.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sobre as voltas.

Tenho uma amiga que diz que eu nunca estou em lugar nenhum... Quando ela me liga pergunta:
"Pra onde você tá indo?"
E, é sempre verdade que eu tenho uma resposta... Minha vida parece um itinerário constante.
Sempre fui a ovelha desgarrada.
Quando bebê ia no colo de qualquer um, varri o salão da minha festa de um ano, aos 2 pedia pra ir pra escolinha, aos 10 já dormia na casa das minhas amiguinhas, sai de casa com 18 e voltava no fim de semana pra curar a ressaca e lavar a roupa.
Achei que cair no mundo fosse mais fácil.
Comecei a lavar a minha roupa, e essa é a melhor constatação de mudança pra quem sempre dependeu da mamãe pra esse tipo de tarefa.
Aqui lembro de cenas que pensava que tinha esquecido.
Adorava lavar o banheiro do meu antigo apartamento... Lá era a minha casa, ainda é.
Enchia a pia do banheiro e enfiava a cabeça toda... Gostava de observar como meu corpo não me deixava afogar naqueles 15cm de água.
A gente se ama muito pra se deixar morrer por pouco.
No apartamento pequeno do subúrbio do Rio, eu sonhava com o mundo que incrivelmente tá de baixo dos meus pés... ok, a 3 andares e em baixo dos meus pés.
Nunca achei que fosse possível.
Ontem do alto de um castelo digno de contos de fadas, encontrei o que vim buscar: A Annanda que se emociona com histórias com final feliz.
Não sei qual vai ser o meu, mas sei que vai ser muito feliz.
Alguém me disse que vim pra cá só pra esperar a hora de voltar, só pra isso.
Descobri que eu voltei. Tenho lembrado de coisas lindas de mim.
Dos domingos na casa da minha vó, do cheiro do vicky vaporub que ela passava nas minhas costas e no meu nariz á cheio de ziquezira.
Diante de Portugal inteiro, que vi do alto do Castelo construído pelos Mouros no Séc. II, tive a certeza de que sonhos existem pra serem vividos.
Meus olhos não cabiam e eu tive que dilatá-los...
Eu e Lord Byron dividimos uma paixão durante o domingo.
Ontem, me apaixonei por Sintra.
Me apaixonei pela vida, de novo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Pequeno.

Hoje acordei com Bethânia cantando que "o mais importante do bordado é o avesso"...
Pensei nisso o dia todo.
Na aula de equipamentos culturais ao invés de anotar qual o tipo de nó melhor pra fixar o ecrã, eu pensava e ia longe.
O mais perto que cheguei foi:

O mais importante de mim é o verso.

O resto encontra-se um tanto prolixo, superficial e definitivamente fora da área de cobertura.
Nem tente me achar.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Trechinho.

Hoje Karol perguntou se acredito em "Homem da vida"...
Os emails que se seguiram foram perfeitos! Pena que tem muito podre!
As meninas da minha vida contando o que acham...
E, rimos, cada uma em um canto do mundo, das coisas que já choramos há tempos.

O que eu penso?!

Sei lá...
Mas, não tô com a menor pressa de descobrir.

"Mar, Metade da minha alma é feita de maresia."

Acho que a outra metade também...

sábado, 6 de novembro de 2010

Fome.

Troquei a Espanha por ficar em casa e colocar as coisas em ordem.
Em uma tentativa de que as coisas dentro de mim se ajeitem também...
Passamos o dia eu, Marina, Tiago e Manu limpando o apartamento.
Nessas horas eu vejo que tem mais da minha mãe em mim do que eu poderia supor.
Suas neuroses estão tão em mim quanto seus ombros largos.
Ela ficaria orgulhosa de como ficou o banheiro das meninas, lindo e brilhando!
Minha mãe me dava banho com lysoform quando eu era pequena... Mania de limpeza?!
Depois da pasta maravilhosa italiana de ontem (Deus existe!!!) que Giulia preparou com o bacon que os pais de Miguel fazem em casa, direto da Itália (Deus existe mesmo!!!), nos inspiramos e resolvemos fazer daqui também o nosso lar, está tudo no lugar.
Comida é capaz de fazer bem, alimentar a alma, melhorar o humor.
Estamos felizes!
Até o armário tá arrumadinho.
Tenho três livros sobre pós-modernidade na cabeceira... Jameson, Giddens, Weber e seus amiguinhos... Vou entender o pensamento contemporâneo... O bacon é poderoso mesmo.
Mas, hoje só amanhã.
Agora é lembrar que eu sou filha de Deus, e ir pro jantar dos Erasmus da minha Universidade.
Incrível como o que mal começou já parece estar acabando.
Alguns já vão para casa no Natal e não voltam.
Vamos mastigar essa noite, comer cada pedacinho do prato principal dessa experiência: As pessoas incríveis que eu conheço, inclusive eu mesma.
Estranho essa sucessão de despedidas... Era a única certeza que tinha quando cheguei, é a única coisa que eu não quero...
Vou ficar um pouco mais.
Estou vivendo de fome!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

"Mundança."

O quarto tá um caos... Há exatas 12h eu e Marina fomos olhar mais um anúncio de ape e decidimos mudar.
Desde que os ratos apareceram e a vizinha começou a nos acordar aos gritos na madrugada, dizendo que ia matar o marido, sentimos que era hora.
Depois que o senhorio apareceu com um papelão cheio de cola com uma linguiça no meio (a ratoeira mais bizarra que já vi, e que mora no meu quarto) vimos que era a gota d'água.
Nunca o ditado que minha mãe adora repetir "Tudo que é demais é sobra" fez tanto sentido.
No final de semana a Giulia e o Marco- o casal italiano que morava aqui- foram embora pra outro lugar, quando bateram na porta pra se despedirem, mesmo sabendo que vamos continuar nos vendo e "manjando" juntos... Deu saudade.
Pensar que não teria a Giulia todos os dias fazendo suas pastas maravilhosas e ensinando italiano, ou o Marco gritando como mantra "Annanda só manja, dorme, bebe e facebook" hahaha foi triste.
Parece que a família- que não sei como- formamos nesses dois meses ficara um tanto mais dissolvida, nessa chuva que invadiu Outubro e inunda hoje.
Marina, Ana, Tuna, Gui, Giulia, Marco e Bia (a vizinha) são os que me deixam mais perto de casa, apesar de que a maioria nunca nem pisou no Rio... Mas, certeza que já moram em mim.
Arrumar as malas me faz acordar um pouco... Sei que tudo é passageiro, mas hoje, sinto isso diferente, sinto um pouco mais.
Vamos mudar pra um lugar melhor.
Vou morar com um casal de baianos, ela faz doutorado e uns salgadinhos de salsicha de comer rezando, ele faz mestrado e poesia, já no primeiro dia enquanto nos engalfinhávamos com o quitute da sua musa inspiradora, ele recitava seus versos.
Pode ser mais perfeito?!
Foi amor a primeira vista, logo que eles terminaram de contar como se conheceram... Eu e Marina já sabíamos que queríamos viver lá.
Bom, estamos indo.
Acho que aqui a vida fica mais clara... Estamos sempre de partida, e às vezes nem dá tempo de arrumar a mala direito... Vai dentro só o que cabe... Algumas coisas ficam pra trás não porque gostamos menos delas ou deles... Mas, não dá... Exemplo disso é que deixei um potinho de iogurte na geladeira...
Continuo amando iogurte, mas não cabe em nenhuma das minhas malas que lota o carro que ainda não veio e sobrecarrega de vontade os meus braços, o meu corpo.
Ontem enquanto subia a Morais Soares, comecei a querer tudo de novo.
Chegar aqui, tirar foto de seus prédios, inaugurar o que eu já conheço tanto.
Despedir-me do bairro mais imigrante de Lisboa tem gosto de nostalgia.
Aposto que Marina vai sentir saudades do Mickey.
E só de pensar que não preciso mais fugir do gnomo e das investidas da D. Celeste... Fico mais tranquila!rs