sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Era uma vez... Duas ou Três...


A madrugada sempre me traz isso.

Não sei se é esse frio, ou ruas escuras.

Pensei ter te visto em uma esquina e me dei conta que não sei quanto tempo faz.

O menino parado do mesmo jeito que você costumava, na tua esquina.

Pensei no automático não ser você, ele parecia mais alto...

Mas, não sei se você cresceu nesse tempo que eu não sei quanto, pensei de ele ser mais magro, mas não sei do seu tamanho.

Pensei de ele não ser tão legal, mas esqueci porque pensava isso de quem você era. Deu saudade do que eu não sei mais. Deu saudade do que passou.

Lembrei do primeiro presente de dia das crianças que ganhei. Aqui em casa não era costume dar presente de dia das crianças, porém em um ano estava APAIXONADA pelo baldinho de praia da Xuxa. Pedi, implorei, me queixei com meus avós, tios, amiguinhos de parquinho etc.

Enfim, para todos, que naquele ano eu merecia, queria o tal baldinho rosa da Xuxa. Meus pais tocados com tamanha mobilização (enchi o saco mermu!), resolveram então me dar o baldinho da Xuxa.

Estava na casa da vó Nice, eu devia ter 6,7 anos, não mais que 8. E, fui surpreendida com o presente inesperado,rompendo com a tradição familiar eu ganhara um presente de dia das crianças!

Para minha decepção o baldinho de praia era da Xuxa, mas não era rosa, era roxo!!! Pode parecer bobo, mas para quem quer muito, presente trocado dói.

Fiquei arrasada, meu primeiro presente veio errado.

Papai Noel, Coelhinho, fada dos dentes! Ajudai-me!

Fiquei arrasada, mas como meus pais não eram dados a dar presente de dia das crianças tratei de estampar o sorriso e ir brincar com o baldinho no banheiro da vovó, ele era o banheiro mais lindo e preto que eu já havia visto, coisa de casa de vó.

Acendi a luz do espelho e pousei o balde de cor errada na pia, de repente, não sei como, não sei por que a pá que vinha no balde escorrega da minha mão e cai direto, em cheio no vaso sanitário.

Fiquei desesperada, como poderia ter sido tão descuidada! Era roxo, mas era da Xuxa!!!!

Meu avô, sensato, me impediu que enfiasse minhas mãozinhas no vaso para pegar, porque num acesso de pânico eu ainda puxei a descarga, entupindo o vaso e prendendo minha pá lá.

Tive que ir embora com meu baldinho de cor errada e sem a pá.

Acho que foi minha primeira grande perda... A pá.

Minha vó prometeu que pegaria a pá de volta daquele vaso sem-vergonha. E, nunca duvide da palavra de uma avó.

Fui para casa contando com o retorno de Jedi... opa! Da pá!

Os dias passando... Nenhuma notícia sobre o resgate.

No final de semana seguinte, voltei na casa da vovó. E ela me contou que o moço tirou a pá, mas que ela ficou com nojo e jogou fora. Ela cumpriu e pegou a pá... só não devolveu.

Sei que depois disso o baldinho perdeu uma parte dele e de mim.

Tem coisas que vão e não voltam, a pá nunca voltou.

Um descuido qualquer e escorrega a pá, uma chance. Perde-se e escoa pelo vaso, pela vida um pedaço importante, um carinho enorme, um presente mais que desejado.

Não lembro se brinquei com aquele baldinho... Lembro que em um acordo silencioso, daqueles que se faz com um único olhar, meus pais nunca mais me deram presente de dia das crianças e eu nunca mais pedi. Não deu certo com a gente.

Bom, essa madrugada me trouxe esse desencontro e a pá. De gente que é pá furada, mas que me lembra uma falta que eu não sabia. Gente que não me enche de areia mais, mas, me deixa espaço.

Nosso acordo silencioso é da gente ser feliz, cada um com seu baldinho ora de cor certa, ora cheio de roxos. Vivo me despedindo de pás. Em paz.

Quando eu lembro das madrugadas sinto-me como quando a vovó me disse que a pá tinha ido e que ela tinha nojo da pá. Também senti nojo de quem eu deixo velado aqui, das pás.

As pás vão, os baldes ficam.

Não é porque ela jogou a pá fora que ela esqueceu de que serve uma pá.

Dá pra encher ainda muitos baldes de areia, vontade e futuro com minhas próprias mãos.

E, sempre haverão natais, páscoas, aniversários.

Sempre haverão surpresas e cor.

Meus baldes de dentro são enormes.

2 comentários:

Cla Benvindo disse...

Acho que depois da noite de sábado, as inspirações irão retornar à todo vapor!

bruna disse...

Adorei o "happily ever after"!