Seguiram de passo e peito apertado e decidiram que se não podiam oferecer mais: promessas, juras, compromisso, futuro. Poderiam tentar, quem não tem o que perder, dizem, tenta ganhar. Não havia qualquer razão tácita para não o fazerem. Se encontrariam uma vez a cada três meses, a cada mudança de estação e, enquanto houvesse pelo que brigar, amariam. Simples, embriagados e em 140 caracteres. Passariam dois dias ao sabor deles e a natureza se encarregava de avisar quando era a hora de novo de se ter, sem contar um para o outro o que se deu só no que se davam. Na cidade maravilha, que era a mãe- e pai e filha- da história sem linha deles, então, com a bênção da Guanabara, seguiu uma série, um mega longa metragem que poderia ser, de verdade, a vida.
Por não quererem prender-se - Ele a achava livre e linda demais pra ser dele, apesar da pose de durona-, e sabendo que aquela menina era dona do mundo, ele não sugeria ficar mais, afinal, quem tem um mundo não precisa de outro. Já, a dona do mundo, pensava que não era a hora, que ele era lindo voando, ela não queria encerrá-lo na gaiola, não queria alianças, queria asas. Por que não se queriam presos, eram um do outro, livres.
Então, como passarinhos, em temporadas voavam, ele em busca dela, ela sempre esperando na hora certa, que ao passo da vida, passou a ser pra cada um o encontro de si mesmo, o encontro. Eles não falavam sobre passado, nem futuro, nem contas, nem ciúmes. Conversavam sobre o sabor dos ventos, métrica de versos, livros que ainda não leram, sobre tanta bobeira e de como os cachorros parecem com os donos, algodão doce, sobre a cicatriz na bochecha dele, sobre as manchinhas nas costas dela, e a topada que ele deu ao descer do ônibus, eles só existiam ali. Em cinqüenta anos, foram duzentos encontros, eles contabilizaram algo em torno de quatrocentos dias, mas se encerravam em dois dias, foram cinqüenta anos em dois dias.
(Sim, tem mais.)
Um comentário:
Sempre tem mais...
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