sábado, 19 de junho de 2010

gaivotas.

Obrigada por ter cheiro de sabonete, cor de nuvem e gosto de pipoca.
Obrigada por me fazer rir, acelerar meu coração, dar um soco na boca do estômago, me fazer soluçar, obrigada pela rasteira. Mas, mais ainda por me fazer sentir.
Obrigada por ter me despertado enquanto eu te acordava.
Por ter me inaugurado, enquanto era eu que te provava.
Obrigada por ter ido embora, porque veio.
Obrigada por ser um garoto, por poder tão pouco e fazer por mim.
Obrigada por ter me aproveitado, roubado minhas cores, se multiplicado.
Ter falado que ia dar tudo certo, ter feito tudo errado.
Obrigada por me partir no meio, me fazer duas vezes mais forte.
Obrigada por falar de alma, poupar palavras, destilar veneno, acabar com a poesia, me deixar ser a garota certa.
Me fazer a garota errada, errante, sua e primeira.
Obrigada por não me entender, me entender demais.
Obrigada por me desconhecer.
Obrigada por sorrir na minha boca, me deixar louca de vontade de você.
Me tirar da dormência, latência vã.
Me mostrar que a mesma mão que acalenta, aperta, despe, fere e despede.
Obrigada por insistir, desistir, existir. Existido.
Obrigada por não deixar nenhum vestígio, sumir do mapa, de mim, ser quase um delírio.
Obrigada por ser meu, enquanto não se acreditava nisso.
Obrigada por ser possível, por deitar n’um chãozinho, por esfregar na minha cara todas as impossibilidades.
Obrigada por esfregar minhas costas.
Obrigada por me fazer mais incrível, gracinha, estampada e minha.
Obrigada por brigar pelos meus cachos. Obrigada pelas serenatas, versos e bobeira.
Obrigada por não me poupar. Por me enxergar gigante, distorcida e menina.
Obrigada por não brigar por mim, não me deixar chegar, esquecer que entrou de baixo das minhas unhas. Ou fingir.
Obrigada por não me deixar entender o que se deu, o que fiz pra receber olhos de faca enquanto falava de música, Sol, férias e carinho de você.
Obrigada por confundir vontade com título, importância com cobrança, sinceridade com crueldade, eu com elas, você com eles.
Obrigada por me confundir.
Obrigada por lembrar de mim quando ouve sobre o Rio, moda, areia e amores de Outono.
Obrigada pelos seus olhos, por eles terem me perseguido e por não terem conseguido ser mais pra mim, por mim.
Obrigada pela saudade que esvazia e enche minha cama vazia.
Pelo silêncio, amargura, pela dureza, pela doçura e pela pureza.
Obrigada pelo fantástico e pela mesmice.
Obrigada por me fazer inesquecível e ser contumaz.
Obrigada pelo côco gelado, pela companhia no mercado, por ter me machucado, por ter amanhecido embolado em mim.
Obrigada por não voltar, daqui pra frente e atrás.
Me mostrar que não vale esperar. Que valeu esperar.

-Já agradeci por tornar o arco-íris preto e branco? Por ter me feito abrir a caixinha de giz de cera e pintar tudo outra vez?

Obrigada por ter me sujado de colorido, translúcido!
Obrigada por me ensinar a operar telescópio pra ver a gente, me ensinar a envergadura de uma gaivota e a distância entre dois.
Obrigada por ter chovido, ter virado tempestade, ter sido só metade.
Obrigada pelo completo, inteiro, verdade e intenso.

Obrigada por ter desenhado na areia comigo, ter me deixado ver você crescer em pouco tempo tanto.
Obrigada pelo baú de coisas que você não me deu, pelo violão que não veio, pelo que nunca se vai ter.
Obrigada por ter me feito brinquedo da sua vaidade, obrigada por ter vindo brincar comigo.
Obrigada por brincar de eternidade e falar em nunca e pra sempre.
Obrigada por estar atento demais pra se distrair e ser feliz pra sempre.
Obrigada por ter tapado os ouvidos pras coisas lindas que tentei dizer.
Obrigada por ter me raptado de mim, só assim pude ser pra você.
Obrigada por esquecer de você, que eu tô do seu lado de dentro.
Obrigada por ter me feito Julieta, Bentinho.
Por ser Machado de Assis enquanto podíamos ter Shakespeare e todos os livros da biblioteca que morou no nosso colo, nos narizes, na curvinha da orelha, ali onde acaba a coluna e tem uma penugem douradinha.
Obrigada por me fazer margarida, por me deixar florir, por não querer saber se criei raiz. Ou saber demais.
Obrigada por não ter motivo,
Por me dar todos eles.

Obrigada ao menino bobo que não queria acordar nos nossos dias de manhã. Vai ver era só vontade de sonhar mais um pouco. Deu tudo certo, viu?!


Coisas realmente bonitas acontecem quando a gente não sabe mais.

Depois que a gente não sabe.

4 comentários:

Juba Leite disse...

nandoca é tudo tããão bonito!
mas ainda acho um pouco depressivo...
"Bom dia flor, amanhã será um ótimo dia p/ ser feliz! vamos?!"
bjs coisa rica!

Geraldo Brito (Dado) disse...

Lindo.
Saudações e parabéns pelo blog!

Karol Gonçalves disse...

Alors, agora li tudinho!

Tão longo quanto romântico...

A preferida será sempre essa:
"Obrigada por ter cheiro de sabonete, cor de nuvem e gosto de pipoca."

Annanda tomando ácidos para escrever desde sempre!

Karol Gonçalves disse...

E a Disney?